sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A INCRÍVEL HISTÓRIA DA MULHER DE AÇO

Ali estava eu, uma mocinha feliz e saltitante, na porta de uma agência bancária numa manhã desgraçadamente quente de segunda-feira (o feliz e saltitante se devia unicamente ao fato de ser o dia de receber o meu tão suado salariozinho). Agência bancária na primeira segunda-feira do mês é o inferno na Terra, mas não tive escapatória porque, só pra fazer jus à minha sina de protagonista de acontecimentos bizarros (e eu confesso que se pudesse começaria a recusar alguns scripts, mas o urubu que eventualmente caga na minha cabeça ainda não desistiu de me utilizar como “WC”), na sexta-feira o meu cartão tinha sido ENGOLIDO sem a menor cerimônia por um caixa eletrônico. Então, depois de passar o fim de semana na lisura total (praticamente no ponto de passar a sacolinha na porta da igreja), eu podia estar roubando, eu podia estar matando, mas eu estava ali na porta daquele banco (tão lotado de gente quanto o fróis do meu urubu particular vive lotado de caca, diga-se de passagem) tentando criar coragem pra entrar e receber o meu dinheirinho honestamente...

Como não tinha mesmo outra alternativa, entrei. Achei um cantinho pra me encostar e abri a bolsa. Saquei o molho de (infinitas) chaves, a porta-níquel abarrotada de (infinitas) moedas, isqueiro, espelhos, celular, calculadora e todas as coisinhas douradas e prateadas que pudessem me fazer ficar retida pelo detector de metais da porta giratória, pus tudo na gavetinha e... PIIIIIIIIIII!!! Aff... será que havia esquecido de tirar alguma coisa??? Lá volto eu com cara de tacho pro purgatório... Mas o pior, o pior MESMO, ainda estava por vir.

- Tire todos os objetos de metal, senhora.

- Já tirei, moço.

- Celular, isqueiro, moedas... (putz, tenho cara de quem nunca passou por uma porta giratória ou de quem ignora que a função do detector de metais seja detectar METAIS???)

- Tirei TUDO, moço. Tá vendo ali a gavetinha? Tá tudo lá.

- Tirou o celular? Moedas?

- Moço (respirando fundo, contando até dez, entoando um mantra em pensamento e tentando me convencer de que o segurança tinha Alzheimer, única justificativa para repetir aquela pergunta em MENOS DE 30 SEGUNDOS), se quiser pode olhar na minha bolsa. Mas apressa aí o negócio porque eu realmente preciso entrar.

- Tem certeza de que não tem mais nada? – e tive de ser guerreira pra segurar a vontade de dizer “ok, você me pegou, na verdade tenho tara por portas giratórias e só vim aqui porque estava muito a fim de matar um dia de trabalho pra ouvir o barulhinho do detector de metais”... pra não falar besteira e piorar o que eu achava (até aquele momento) “impiorável”, abri a bolsa, tirei o que mais havia nela (carimbo, clipes, fivelas de cabelo, lixa de unha, CDs, canetas... só deixei o absorvente porque aí já seria demais), olhei pro Alzheimer e disse: TENHO.

- Positivo (só se fosse pra ele, pra mim estava tudo muito negativo!!). Então a senhora pendure a bolsa aqui nessa maçaneta e pode passar pela porta, e assim que tiver passado pode retirá-la.

Se era assim... dos males o menor, pelo menos eu poderia entrar e dar um basta na minha penúria. Pendurei a bolsa na tal maçaneta e... PIIIIIIIIII!!! Fiquei retida no detector de metais!!! Enquanto todo mundo me olhava com aquela cara de “what the poha is that” (olha aí a Anne fazendo escola!!) eu tentava descobrir que diabos havia no meu corpo que não passava na maldita porta. Platina? Não. Aparelho dentário com poderes titânicos? Não. Marcapasso? Não. Nanochips? Não. Lata d’água na cabeça? Não. Um filho do Wolverine? Não. Uma bunda de aço? Quem dera!! Uma pinça esquecida durante a cesárea? E quem disse que eu fiz alguma cesárea???

- Olha, moço. Esse vestido nem tem bolso. E eu REALMENTE preciso entrar aí, entende? Custa aliviar? Se eu estivesse disposta a fazer uma chacina no banco, não teria vindo com esse modelito primavera-verão... – E ele continuava me olhando (Alzheimer, sabem como é). Não agüentei e soltei um “Ah, moço, qual é, olha pra mim, ONDE VC ACHA QUE EU ESCONDERIA UMA ARMA???”, e ele fez uma cara bem sugestiva do tal lugarzinho que estava imaginando... foi quando os anjos tiveram piedade de mim e sopraram no meu ouvido “DÃÃ... O BRINCO, NÉ??” Eram brincos de aço inox... tirei os ditos-cujos desesperadamente das orelhas, joguei na gavetinha e inacreditavelmente... PASSEI!!!

Resumindo o que se passou depois, catei meus bagulhos da gavetinha, joguei dentro da bolsa e passei como um furacão pro caixa, agora mais por vergonha do que por pressa propriamente dita. Na saída olhei com o rabo do olho pro Alzheimer... e, pela cara dele, ainda estava pensando no tal “esconderijo” (e vocês podem imaginar qual era a “arma” que ele estava pensando em esconder, que horror!!)... enfim, passei a ter mais cuidado com essas máquinas engolidoras de cartão. Quanto ao urubu cagão, bem... quem disse que depois disso ele me deu férias?